YOGA E SUCESSO

    Vivemos em uma sociedade que tem como referenciais ou critérios para medir o sucesso: o quantitativo do salário e estabilidade financeira, bens materiais com padrões estéticos definidos e imagem com padrões rígidos (logomarcas, roupas, estilo e corpo). Todos esses elementos são controlados para manter o consumo de bens e de serviços, independente de gerarem  bem ou mal estar social. 

    Se pensarmos no salário exclusivamente como um quantitativo, que deveria ser cada vez maior, não olhamos para o que poderia ser o suficiente para viver bem e para o tipo e tempo de trabalho, consequentemente. Quando estamos fortalecidos e temos autoconhecimento, os critérios para avaliar nosso "sucesso" virá das nossas vontades, sensações e princípios éticos, assim como a perspectiva de um salário ideal. Isso é autonomia, é saber escolher. Esse movimento se estende para os demais elementos que citei acima sobre o que seria "sucesso" para nós como sociedade, os bens materiais seriam escolhidos em uma quantidade, qualidade e estética que seguiriam nossa capacidade de compra, a estética e quantidade que nos agradassem, sem que nossa preocupação seja : "o que os outros vão pensar se minha casa não for dessa e dessa forma"...

    A imagem! E como essa ditadura nos faz mal! Não podemos escolher nossas roupas ou sapatos, precisamos cumprir um padrão, mesmo que não sejam saudáveis ou confortáveis. Nossos corpos não podem engordar ou emagrecer demais, precisam ter determinada forma, não podem envelhecer, independente disso tudo significar ausência de saúde. Não nos preocupamos em manter movimentos que signifiquem a nossa liberdade e autonomia, focamos em um ideal que nunca se realiza. 

    Esse funcionamento social gera uma constante insatisfação em nós e conosco, o sucesso parece que nunca vai chegar e a frustração e sensação de inadequação só aumenta.  Grande parte das pessoas que são ícones da "chegada ao sucesso" têm adoecido. Mas será que essa chegada é possível? 

O Yoga é uma prática que nos coloca em contato com nossas emoções,  vontades, sensações e princípios éticos e tem como objeto de estudo e educação a  mente, dando condições de saber quem se é, para além daquilo que é exigido da gente, diariamente. A partir desse conhecimento,  podemos escolher, dentro dos limites dos jogos de poder sociopolíticos,  o que realmente nos satisfaz (salário, trabalho, bens, estilo, tempo de...) e é esse sentimento de satisfação com aquilo que fazemos que traz a possibilidade da presença, assim como o contrário também é verdadeiro, a presença traz satisfação. Isso nos capacita tanto para sentir as emoções agradáveis quanto para compreender e lidar com as desagradáveis. Esse é o sucesso para o Yoga. 

Consideramos o sucesso o progresso no estabelecimento da presença, que significa viver com profundidade, sentindo, escolhendo os pensamentos que te favorecem viver com satisfação, escolhendo de forma consciente o que queres fazer e ser,  com a mente clara e direcionada para teus objetivos. O sucesso para o Yoga é palpável, realizável e depende de você: do seu esforço, constância e dedicação. Mas é claro, existem elementos sociais que limitam nossas escolhas para além daquilo que é abordado nesse texto e que mantém as desigualdades sociais, mas vamos focar naquilo que é possível para nós, e que não deixa de impulsionar mudanças na estrutura social.   

    No entanto, é preciso ter consciência de que o progresso não é algo estático, não somos seres estáticos, existe algo em nós mais constante e existe sempre um espaço para mudanças. Por isso, o sucesso não é uma linha reta, são ondas que começam a ficar mais suaves, a partir da prática de Yoga,  com o aprofundamento do autoconhecimento e domínio da mente.  

    Nesses 20 anos de prática, a partir  dos momentos difíceis da vida e de contatos com a morte, como também a partir de momentos maravilhosos de domínio de meu corpo-mente, de conexão com minha consciência e com a Natureza, vivenciei minha mente clara, cristalina, mas esses momentos precediam outros de mente nebulosa, de uma sensação de estar um pouco perdida ou acuada. Com o tempo, os momentos nebulosos  passam mais rápido e demoram mais a chegar. Hoje, sinto que minha mente está cada vez mais focada naquilo que sou e quero, mantendo meu corpo saudável, minha prática constante e fazendo o que escolhi, satisfeita com minha jornada. Você já imaginou o quanto é difícil, em uma cidade do interior, trabalhar com algo (Yoga e Medicina Chinesa) que não é valorizado e que me exige estar explicando que faz bem, que funciona e dependendo do esforço e disciplina do outro? Não é fácil, mas encontrei um ponto de foco, de conforto e de prazer nisso tudo, a partir  da própria prática de Yoga. 

O belo livro que li , que trago como referência deste assunto é "O coração do Yoga", de Desikachar,  que diz: 

“O corpo e mente estão acostumados a certos padrões de percepção, e eles tendem a mudar com a prática de Yoga. É dito no Yoga Sutra que as pessoas experimentam alternadamente ondas de clareza e de obscuridade quando começam a praticar Yoga. Ou seja, passamos por períodos de clareza seguidos de épocas em que a nossa mente e percepção ficam muito carentes dela. Com o tempo, haverá menos obscuridade e mais clareza. Reconhecer essa mudança é um modo de medir nosso progresso". 


Persistam! E essa persistência transbordará em tudo!

Abraço de Sófi. 

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