A MENTE E A COLETIVIDADE
"Yogash Chitta Vriti Nirodah"
A frase acima está em sânscrito, língua mãe da Filosofia do Yoga, segundo I.K. Taimini, significa:
"Yoga é a inibição da modificação da mente".
Essa definição possui diversas traduções, todas indicam que a mente precisa ser conhecida e lapidada ao longo da prática de Yoga.
É uma definição clássica de Yoga, presente em um dos textos mais importantes da Filosofia Yogue: o Yoga Sutra de Patanjali, texto que registra princípios, técnicas, método e seus desdobramentos no corpo-mente-consciência humana.
A mente possui diversas "camadas", mecanismos, comportamentos, é uma dimensão profunda e complexa do nosso ser. Muito estimulada e super valorizada, a mente que deveria ser parte de nós, é considerada o Todo, em detrimento das nossas outras dimensões: subjugadas, oprimidas, pouco desenvolvidas e expressas de formas muito limitadas.
A mente não é só a constante produção dos pensamentos, não é uma tela de projeção de imagens, a mente é o fluxo de pensamentos e , ao mesmo tempo, é uma forma de olhar e de vivenciar a vida. Quando acreditamos que todo conteúdo que ela produz é você e são os outros e a vida, é isso que acontece.
Precisamos, urgentemente, nos dar conta de que muitos dos pensamentos que a mente produz são destrutivos, são obstáculos para a ação, definem e cristalizam demais nossas vivências. Pensemos no princípio de Impermanência para esclarecer este ponto: a vida é constante transformação, nós, as pessoas, coisas e Natureza estamos sempre mudando, nos níveis físico, fisiológicos e psíquico, então, dizer " eu sou" é definir e cristalizar demais.
Chegamos mais próximos do conceito de Impermanência quando dizemos: "eu estou assim". Com essa definição fluida, expressamos a consciência de que podemos mudar e podemos agir em busca dessa mudança: com corpo, com emoção e com conhecimento.
Voltando à frase inicial do texto: "Yogash Chitta Vriti Nirodah"/ "Yoga é a inibição da modificação da mente". Mas já que a Natureza é a transformação, porque o Yoga é a estabilidade da mente? A estabilidade não significa que ela esteja parada, na verdade, aprendemos a não dar tanta importância ás agitações e turbilhões mentais, eles perdem energia com isso, e mais, a mente pode se tornar somente um "pano de fundo", constante nas suas oscilações, mas sem o poder de dominar a minha compreensão-ação no presente.
"Duhkha daurmanas syangamejayatva svasa prasvasa viksepa sahabhuvah"/ "Dor mental, desespero, nervosismo e respiração difícil são sintomas de uma condição mental dominada por distrações".
Yoga é constante exercício e esforço, pois o que foi aprendido, no que se refere a mente e as emoções, pode se tornar difícil de praticar em certos contextos de vida, não é um movimento do corpo que permanece durante um tempo, mesmo que não seja executado com frequência, e se perde com o enrijecimento da musculatura, por exemplo. O tempo do nosso ser psíquico é diferente do tempo do corpo.
Por isso, o Yoga não é uma prática que indica "alta", final de tratamento, ela nos acompanha ao longo da vida.
Quando pensamos que estamos dominando as atividades mentais, vem um evento pesado como de uma pandemia e nos mostra que o domínio ainda é frágil, que precisamos conhecer, lapidar, educar a mente ainda mais, para que possamos lidar com os desafios diários conscientes de nosso potencial, do melhor que podemos fazer e em busca de um bem maior.
"Yogash Chitta Vriti Nirodah" é somente um passo desse caminho. Quando compreendemos que nossa saúde e o nosso bem viver é coletivo, principio essencial da Filosofia do Yoga, colocamos a mente como uma lente que nos mantém fixados em nós mesmas e mesmos, uma distração do todo rico e complexo que é a vida. Quando aprendemos a lidar com essa parte de nós, colocando-a no lugar de parte, fica mais clara a nossa vivencia coletiva, a nossa interdependência.
Quando compreendemos que o sofrimento individual também é coletivo, podemos contar com outras forças, apoios, acolhimentos, amores, encantamento, aprendizado e prazer. Estar junto é sofrer e alegrar juntos.
Não somos o centro do mundo e não somos o nada do mundo, estamos praticando Yoga para, primeiro, enxergarmos o nosso lugar, habitá-lo de forma individual e coletiva, considerando a saúde integral de todos os seres que vivem conosco, uma mente absorvida em si mesma e que nos suga dia-a-dia, se perde da dimensão coletiva.
Abraço de Sófi.
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