YOGA E VAZIO: o que fazer com ele?
Vou iniciar nosso texto com uma poesia de Vivine Mosé, sou admiradora de seu trabalho, em diversos campos humanos, desde o início da gestação de meu filho, faz mais de 17 anos. E como ela me ensina e me inspira!
Do livro "Meu braço esquerdo: um sim à vida", página 113:
"No espaço onde o vazio espraia
Aprendi a colocar coisas dentro
Pra germinar
Tudo brota desde que semeie
Tudo nasce
Tenho unhas fortes
E braços
Das ausências
Das pausas na respiração
Da saudade daquilo que não houve
Nascem palavras acesas
Nasce luz"
Assim como fazemos com a dor, com o desagradável, podemos fazer com o vazio...
...ele pode nos trazer a sensação de que falta algo, alguém, dar sensação de solidão, talvez...o vazio pode ser muito desconfortável. Posso, então, afirmar que no Ocidente aprendemos a fugir, esconder, negar ou não aceitar o vazio. Sobre isso, quero trazer um fragmento do livro de Ana Beatriz "Mentes Depressivas", em que ela desenha uma camada do contexto de cultivo desse condicionamento:
"O ser humano tende a varrer para debaixo do tapete as coisas que teme, como se não pensar em algo tivesse o poder milagroso de produzir imunidade contra suas apreensões. É a velha história de que tudo de ruim está na casa dos vizinhos e , por isso mesmo, só acontece com os outros. Reprimir nossos medos e colocá-los na área mais inacessível da memória, além de não resolver o problema, tende a agravá-lo" (Silva, p.23).
A partir da conexão das falas dessas mulheres incríveis, que me acompanham em minhas aventuras existenciais, defendo que o vazio pode ser um espaço do relaxamento, da entrega e da mudança. Não há nada para se fazer com o vazio, ele é Natural e Humano, ele é existencial. Não é preciso preenchê-lo com ninguém ou com coisa alguma. Ele pode te habitar, sem que seja um sofrimento, ele pode estar integrado a sua vida. O que seria de nós se tudo fosse confortável? O desconforto, a dificuldade, o desafio e o sofrimento nos impulsionam para a mudança com muito mais força que uma meta mental.
A meditação pode ser o "cultivo do vazio", primeiro eu me coloco em silêncio e esse silêncio me coloca em contato com tudo aquilo que eu tento fugir no dia-a-dia : com o que sou (fragilidades e potências), com o outro em nós, com nossas faltas, com nossas responsabilidades, com nossas emoções mais desafiadores, assim como com aqueles pensamentos mais destrutivos. Mas estamos cheios, como a meditação é o cultivo do vazio? Saber que existe todo esse conteúdo em nós e conhecê-lo (suas raízes e expansões), traz-nos a possibilidade de descartá-los como algo que não é verdadeiro, não legítimo, sem base, contraditório, etc e essa é a primeira etapa da meditação, a limpeza! Quando fazemos a limpeza, criamos espaço e o espaço é a possibilidade do contato com o vazio, que está sempre em nós.
Com o tempo de experiência de meditação, a sua mente vai se condicionando à limpeza e consolidando o foco naquilo que realmente importa : sua respiração, suas emoções, seus valores e alinhamentos de posturas, comportamentos e de vivências em direção a realização desses valores, na relação contigo e com o mundo. O que exige escolha : o que é interessante absorver mentalmente para que eu chegue a tal e tal comportamento, postura ou vivência? Ou seja, você aprende que pode manter sempre um espaço mental sem nada e outro com pensamentos significativos. Assim, novamente, você está "cultivando vazio".
Não é preciso estar com a mente e corpo vazios , por completo, para estar profundamente em relaxamento, é só entrar em contato com esse "vazio existencial": onde não tenho nome, não tenho vida, nem responsabilidades, sou apenas parte de um todo, como postura profunda de confiança e de entrega a ele, que o relaxamento acontece. Não existe explicação racional para isso, mas o Vazio acontece como um estado anterior ao próprio ser, que está sempre aqui e aí dentro, e aparece com mais clareza após tempo de prática da meditação.
O vazio também é o espaço da mudança, sem saber que podemos limpar e criar espaço, teremos a falsa impressão de que não podemos mudar. Quando começamos a escolher o que faz sentido ficar, tirar energia daquilo que não tem importância ou daquilo que não queremos mais manter na nossa mente, esse é , de fato, o espaço aberto para a mudança. O VAZIO DO NÃO SER, DA POSSIBILIDADE DA MORTE, nos faz direcionar energia para o que realmente importa, esse vazio sempre nos acompanha, é HUMANO, É NATURAL, NÃO PRECISAMOS ESPERAR A VIVÊNCIA DA "QUASE MORTE" PARA FAZER ISSO DE FORMA CONSCIENTE.
E ASSIM EXPLICO A POESIA DE VIVIANE E FUNDAMENTO O ARGUMENTO DE BEATRIZ.
Dedique-se à meditação:
A prática das técnicas do Yoga prepara o corpo para meditação.
A Filosofia do Yoga prepara a mente para a meditação.
O Yoga é a própria vida como movimento consciente.
A consciência é a liberdade responsável, pois a realização é coletiva.
Abraço de Sófi.
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