Síntese 1: Livro "Toda ansiedade merece um abraço". Alexandre Coimbra Amaral
É com muito encanto que me conecto com Alexandre, pois a sua obra traz à tona um conceito de ansiedade na perspectiva da vivência coletiva. Você pode captar essa ideia no título, quando o autor nos presenteia a imagem do acolhimento NO ABRAÇO, que é impossível de se fazer sozinha, sozinho.
Outra ênfase que ele dá à coletividade, repousa na expressão "Toda Ansiedade", tocando na particularidade que se banha na diversidade de manifestações daquilo que entendemos como ansiedade. De forma geral, e no ritmo do senso comum, entendemos ansiedade como um adoecimento, evitável e que funciona de uma só maneira para todas e todos.
Alexandre desconstrói o senso comum de ansiedade, quando troca o artigo, que comunica uma unidade, pelo pronome TODA, levando-nos a ter contato com um conceito de ansiedade mais profundo, multifacetário, como expressões diversas de sinais nos nossos corpos-mentes, inevitáveis, partes de nós, que falam sobre nossas fisiologias, sobre nossas histórias, sobre as nossos momentos de vida...porque...sim...os sinais sempre se transformam, assim como nós e nossas vidas entrelaçadas.
A importância de sairmos da perspectiva individual, quando falamos "a minha ansiedade", para a coletiva está em compreendermos qualquer adoecimento inserindo-o em um contexto, e o contexto é sempre coletivo, já que não é possível viver sem pertencer a um. Toda sensação de individualidade é relativa ou ilusória: dependemos das pessoas para nos alimentar (plantio), para trabalhar (você sempre trabalha com ou para), o que fica mais claro nas relações de contato profundo, para constituir famílias, para o cuidado e para o autoconhecimento, você nunca se compreenderá distante das relações. Ampliando o olhar, então, é impossível viver sem a Natureza, é impossível respirar, comer, construir, desenvolver, somos todos interdependentes, como já falei em alguns artigos anteriores.
Mantendo essa ideia de que vivemos um estado coletivo de alerta, o autor começa a apontar atitudes que não contribuem na lide com as manifestações dele: o fortalecimento da ideia de que a ansiedade é um tipo de fraqueza do indivíduo, causando isolamento, vergonha e repressão dos sinais de alerta de quem se vê atravessado por ela.
Nos capítulos que se seguem, Alexandre discorre sobre o tema sob o contexto da humanidade : o sofrimento faz parte do humano, assim como as emoções desconfortáveis. O humano se apoia, naturalmente, em expectativas e projeções que nunca são, nem serão, a realidade. O real é composto de muitos elementos que fogem do nosso controle, a frustração é certa. Se não tivermos clareza disso, o sofrimento se torna mais intenso e constante, quando deveria ser onda, que vai e vem.
Pontos importantes destacados pelo autor sobre o processamento das frustrações são: reconhecimento, aceitação desse processo como condição humana e o respeito ao tempo de elaboração, três pontos bastante negligenciados na nossa contemporaneidade, pelo mesmo processo que define o senso comum de ansiedade citado acima. A NEGAÇÃO, como se ansiedade e a frustração fossem processos inaceitáveis nas nossas vidas, motivos de vergonha e sempre medicáveis.
O autor relaciona esses três conceitos: ansiedade, frustração e emoção desconfortável, extremamente íntimos, para compreendermos que a forma de lidar com eles é consequência de como os entendemos socialmente. Concluindo que o que está socialmente estabelecido conceitualmente está nos levando a tornar algo que é natural, inerente à vivência humana, em um real adoecimento coletivo, cada vez mais complexo e difícil de lidar.
Então, para que entendamos o raciocínio do autor para os capítulos que vêm, é preciso ter em mente essa nova construção dos conceitos de ansiedade, frustração e emoção desconfortável numa perspectiva humana, coletiva e natural.
E sigamos nessa imersão necessária, vital e acolhedora!
Abraço de Sófi.
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